sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O Bom Médico




Acredito que todos já foram a um hospital um dia...

Tem sempre aqueles dias em que nosso corpo insiste em apresentar dores ou situações incomodas completamente indevidas. Há quem vá a hospitais particulares, ou tem seus próprios médicos (e glória a Deus por sua vida se você pode fazer isso!), mas para quem precisa encarar um serviço público a situação é diferente.

Minha intenção não é reclamar sobre o atendimento dos hospitais, fique tranquilo, acredito que tudo que eu disser você já sabe ou saberá de algum modo. Sem mais delongas quero compartilhar algo fantástico que aprendi enquanto aguardava atendimento.

Como a maioria de vocês sabem eu tenho Esclerose Múltipla, uma doença neurológica que pode causar deficiências visuais, auditivas, motoras e etc. Não é uma doença fácil, mas não é impossível também. Tenho uma vida normal, sem muitos exageros e faço tratamento porque a mesma ainda não possui cura na medicina. Ocorreu que eu estava no hospital porque a doença atacou (surto) e eu precisei fazer um tratamento intensivo para estabilizá-la, o que aconteceu depois de cinco dias fazendo o tratamento. Eu estava feliz da vida porque iria pra casa comer um monte de porcaria e grata a Deus por estar bem novamente, sem nenhuma sequela do surto. Bem, era o que eu esperava ...

Deparei-me com uma surpresa desagradável naquela semana. Descobri que eu estava com uma pequena trombose na perna direita e depois de descobrir o que era trombose (pelo pai Google) precisei ser tranquilizada pelo meu médico. Seria mais uma semana de outros remédios e dores incomodas. Mas pensei indo pra casa: “Bem do que eu posso reclamar? Poderia ser pior!”. E eu fui para casa ficar de repouso e pedir a Deus um bom descanso depois de uma semana de agulhas, remédios, dores, filas de hospital, médicos desinteressados e cansaço emocional. (...)

O problema de quando estamos em uma situação realmente ruim, é que nós passamos a acreditar (por desespero) que não pode piorar. Nós nos blindamos e tentamos descartar o ruim porque já estamos mutilados demais para pensar em algo pior. Não foi diferente comigo, eu estava cansada, precisava acreditar que mais nada de ruim iria acontecer comigo.

Mas aconteceu...

Um efeito colateral um pouco exagerado do corticoide (tratamento) começou a incomodar mais do que devia, passei a sentir dores fortíssimas no peito, falta de ar e qualquer mínimo barulho disparava meu coração. Eu tinha a sensação de querer rasgar meu peito e arrancar meu coração para fora e dizer: “Dá um tempo meu filho, tô cansada!”.

Eu não conseguia dormir, sempre me assustava quando cochilava o que piorava a situação. Estava muito complicado, e eu sentia que deveria sumir do planeta e ir para um lugar onde não existisse nada disso.

Por fim minha mãe me levou ao hospital. Foram quase três horas de dores constantes e mais de cinquenta pessoas na minha frente. Cheguei a um estado crítico de quase não respirar. Fui levada as pressas para dentro, mas o médico não quis me atender. Na verdade ele nem olhou para mim. Todos os pacientes a minha volta tentavam me ajudar, e o médico simplesmente não olhava para mim.  

Pensa no tamanho da minha frustração! Eu era uma menina, não sabia o que estava acontecendo comigo, estava sentindo uma dor fora do normal. Meu peito doía, minha perna com trombose reclamava, minha mãe chorava pedindo ajuda ao médico e o que ouvimos foi: “EU NÃO POSSO ATENDÊ-LA, NÃO TENHO SALA.”

Imagina que você tem uma pessoa a menos de meio metro de você que estudou anos para ajudar pessoas doentes e que você está doente, esta pessoa pode te ajudar, mas ela diz calmamente que não irá fazê-lo porque não tem uma sala. Eu fiquei pior do que já estava, fiquei com raiva, disse para minha mãe me levar para casa. Se eu fosse morrer de passar mal seria na minha casa, na minha cama e não em um lugar como aquele. (...)

Nestes momentos mais críticos de nossas vidas nós sempre preguntamos a Deus porque estamos passando por isso, ás vezes nós temos uma resposta na hora, mas quase sempre Deus ou se mantém em silencio ou diz: “Espere.”. Neste momento eu não estava nem respondendo mais nada para Deus, só dava aquele olhar de “CÊ TA DOIDO? EU TO MORRENDO AQUI MEU FILHO!”

Posso imaginar aquele sorriso torto de onisciência de Deus para mim. Óbvio que não estou dizendo que Deus sorri do nosso sofrimento, mas é aquele sorriso de um homem sábio e experiente que dá um tapinha do seu ombro ou na sua cabeça e diz: “Calma minha filha, eu conheço o futuro. Não estou preocupado, por que você deveria estar?”.

Após voltar para casa e piorar mais ainda de noite, minha mãe me levou a um outro pronto socorro. O atendimento foi mais rápido, mas eu estava focada demais nas condições do local para perceber que já haviam me encaminhado para um médico e que a fila não era grande. Eu estava incomodada porque o local era quente e abafado o que aumentava minha falta de ar e fadiga da Esclerose. Na verdade eu já estava naquele estágio de desanimo total, já era a segunda semana que eu estava sendo mutilada física e emocionalmente, eu não estava esperando (ter esperança/contar com) mais.

Quando eu estava prestes a verbalizar a minha desistência, apareceu um médico no corredor. Ele disse com uma voz alta, paciente e bem humorada o nome de dois pacientes velhinhos que iria atender. Ele foi tão atencioso com os dois que eu cheguei a sorrir.

Nesta mesma hora a mulher que estava do meu lado e da minha mãe disse: “AH! ESTE MÉDICO É BOM! ELE É UM BOM MÉDICO!”. Foi um estalo na minha mente. Foram as palavras cobertas do balsamo que meu coração e corpo ferido ansiavam para acreditar novamente. Eu me ajeitei na cadeira e olhei fixamente para o médico e senti paz... Senti alívio. Eu não o conhecia, nunca havia o visto, mas a moça a minha direita havia dito “este médico é bom!”.

Era tudo que eu precisava ouvir depois de mais de um dia de dores constantes, de negação por parte de outros médicos e de um aflitivo (para mim) espere da parte de Deus. Eu estava cansada do mesmo jeito, sentia as mesmas dores, mas agora eu sabia que o médico que iria me atender era bom. Era o mesmo pronto socorro, mas eu estava diferente.

É engraçado como precisamos de pouco para enfrentar momentos difíceis não é mesmo? Eu precisava me acalmar e apenas resistir a uma situação que iria passar, e apenas três palavrinhas conseguiram aliviar todo um dia de desespero e aflição. Três palavras foram um milagre no meu coração cansado.

Sei que você já passou ou passa por situações similares a minha daquele dia. Alguém já te disse que não há salas para te atender, que não há saída, que no momento ele está ocupado demais, que outras pessoas estão na sua frente, que ele não vai te ajudar. Tenho certeza que já aconteceu de você nem receber um digno olhar, ou palavras que te confortassem em momentos que você não sabe o fazer.

As pessoas vivem nos desapontando, nos ferindo, virando as costas nos momentos de maior desespero para nós. Fazem tanto isso que acabamos por deixar de esperar, acabamos por atribuir falhas humanas a um Deus que não é falho. Achamos que o espere de Deus é um não posso atendê-lo ou não quero. Então nós nos entregamos à aflição e não conseguimos resistir.

Eu fiz isso naquele dia, e no final das contas eu precisava fazer. Eu precisei chegar um ponto tão miserável para perceber que Deus jamais faria isso comigo. Quando vi aquele médico, quando ouvi sobre ele, me lembrei de Jesus.

Ele atendia a todos, não importava quem fosse. Ele atendia em qualquer lugar. E mesmo que as pessoas tentassem impedi-lo Ele ainda assim atendia. Nunca ouvi Jesus dizer não posso, eu não tenho sala. Na verdade Ele dizia: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mt 11:28). Ele sempre se interessou pelos problemas de cada um que encontrava e nunca negou atendimento a nenhum deles.

Naquele dia eu pensei que Deus havia me deixado a mercê por causa do primeiro médico, mas eu não sabia que na verdade eu estava apenas no lugar errado e na hora errada. Afinal de contas o Bom Médico iria me atender logo mais a noite. E eu fui muito bem atendida, voltei para casa sem dor e dormi um dos sonos mais tranquilos que já pude desfrutar até hoje.

Lembre-se meu caro amigo que nós temos muito mais do que um bom médico. Um ser humano pode se compadecer de outro, mas só existe uma pessoa que pode se colocar em nosso lugar e sofrer todas as nossas dores, entender todas as nossas aflições, nos amar incondicionalmente e estar 25h por dia disponível para nos ajudar, afinal Ele não é apenas o Bom Médico, Ele é também o bom amigo, o bom consolador, o bom ajudador (...). Ele é BOM em tudo e qualquer situação.

“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; (...) e pelas suas pisaduras fomos sarados.”
Isaías 53: 4-5

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

"Eu tiro a sua pele"




Olá meu amores, quanto tempo! Espero que estejam todos bem.

Estava eu, em plena madrugada, me deliciando com meu livro de ficção favorito. Estou lendo novamente todos os livros das Crônicas de Nárnia e àqueles que o conhecem, sabem bem que Deus caprichou na criatividade de C. S. Lewis. Estava eu lendo o o capítulo 7 do livro A viagem do Peregrino da Alvorada quando me deparei com uma verdade a respeito de Aslam, que os leitores mais assíduos sabem que é a representação de Cristo, que não havia percebido antes.

Pois bem, o capítulo se trata do começo de uma grande transformação. Esta transformação se refere a Eustáquio, um rapaz britânico muito infeliz por estar em Nárnia pela primeira vez. Na verdade, Eustáquio provavelmente nunca fora um sujeito de fato feliz até a sua aventura. Quem leu o livro sabe que Eustáquio era medíocre, cheio de si, mandão, dono da verdade, arrogante, egoísta entre outros adjetivos não muito bons. Em uma tentativa egoísta de se afastar para não trabalhar duro como os demais ele acaba em uma caverna de dragão, que o leitor sabe bem que era muito bem servida de ouro para que o primeiro ambicioso que chegasse fosse pego pela maldição e se tornasse um dragão. Já sabemos o que aconteceu com Eustáquio obviamente!

Sabemos que quando nos tornamos em algo que não queremos nós simplesmente passamos a enxergar melhor o que nós fizemos para chegar até ali, e a culpa de nossas ações caem sobre nós. Não foi diferente com Eustáquio, mas o ponto chave desta matéria não foi o fato de Eustáquio ter percebido que ele era o responsável por tudo aquilo que ele havia se tornado, mesmo porque não foi isso que o tornou humano novamente. Como há de se esperar, quando não parecia haver solução, Aslam apareceu e deve ser lembrado que somente a Eustáquio, já que o problema se referia a ele. Enfim, O Leão o convida a segui-lo e o leva a um local onde existe uma nascente de águas. Eustáquio sentia uma forte dor no 'braço' esquerdo por conta de bracelete que ele havia colocado lá antes de se tornar um dragão. O jovem dragão estava desesperado para entrar na nascente acreditando que a mesma iria aliviar a dor que sentia no braço, porém Aslam diz para que ele tire sua roupa primeiro. Percebendo que O Leão se referia a pele do dragão se esforça durante 3 tentativas para tirar a pele do dragão, mas mesmo que tivesse tirado a pele 3 vezes ainda havia pele lá. Então, começa o extraordinário. Aslam simplesmente diz: "Eu tiro a sua pele". (para ser mais justa, irei postar nas palavras de Eustáquio)

“Como estava louco para molhar a pata, esfreguei-me pela terceira vez e tirei uma terceira pele. Mas ao olhar-me na água vi que estava na mesma. Então o leão disse (mas não sei se falou): “Eu tiro a sua pele”. Tinha muito medo daquelas garras, mas, ao mesmo tempo, estava louco para ver-me livre daquilo. Por isso me deitei de costas e deixei que ele tirasse a minha pele. A primeira unhada que me deu foi tão funda que julguei ter me atingido o coração. E quando começou a tirar-me a pele senti a pior dor da minha vida. A única coisa que me fazia aguentar era o prazer de sentir que me tirava a pele. É como quem tira um espinho de um lugar dolorido. Dói pra valer, mas é bom ver o espinho sair.
— Tirou-me aquela coisa horrível, como eu achava que tinha feito das outras vezes, e lá estava ela sobre a relva, muito mais dura e escura do que as outras. E ali estava eu também, macio e delicado como um frango depenado e muito menor do que antes. Nessa altura agarrou-me – não gostei muito, pois estava todo sensível sem a pele – e atirou-me dentro da água. A princípio ardeu muito, mas em seguida foi uma delícia. Quando comecei a nadar, reparei que a dor do braço havia desaparecido completamente. Compreendi a razão. Tinha voltado a ser gente.
 Depois de certo tempo, o leão me tirou da água e vestiu-me. Me vestiu com uma roupa nova."


Aí você me pergunta: O que raios a minha vida tem haver com isso Rebeca?

E não somos nós ambiciosos por diversas coisas que julgamos serem as melhores?
E não nos declaramos donos da razão? Injustiçados quando as coisas não saem do jeito que planejamos?
Pobres vítimas de uma vida que dizemos que não escolhemos?

As vezes nos vestimos de tantas coisas que mal conseguimos saber quem éramos. Estamos sempre insatisfeitos, desconfiados e reclamando da vida. Vestimos a pele da mentira para esconder nossos atos, dos peguetes da semana, da balada, das drogas, das bebidas, da falta de educação com nossa família, da grosseria, da mágoa, da falta de interesse, da falta de compromisso, da deslealdade e etc. São tantas peles que chegamos a ficar irreconhecíveis.

Mas sempre existe aquele momento do dia em que Jesus nos convida a segui-lo, sempre. E desesperados para que a dor suma nós vamos. E quando vemos esta fonte de água para nos aliviar, nós queremos entrar! Mas é necessário tirar as peles. E quando tentamos tirá-las não importa quantas vezes tentamos, nós simplesmente não conseguimos não é? As vezes parece que tiramos, mas quando vamos olhar ela ainda está lá. Aí quando não parece mais haver saída Jesus nos diz: " Eu tiro a sua pele".

Ah meu caro amigo, o que Jesus quer que você entenda hoje é que existem algumas peles que nós simplesmente não conseguimos tirar. Elas estão tão profundas em nós mesmos que somente Ele pode tirá-las. Talvez você tem se esforçado a anos e o que você vê são mais e mais camadas de pele. A fonte pode parecer um sonho antigo que nunca irá se realizar talvez. Mas não se preocupe, hoje Jesus está lhe dizendo: Calma, eu tiro a sua pele pra você.

Deixe Ele fazer isso por você, e sei eu que sua experiência não será como a de Eustáquio, mas sei também que o resultado será o mesmo: Uma grande transformação. Vá em frente...deixe Ele lhe jogar dentro da nascente. Lhe garanto que quando Ele o fizer você vai se sentir aliviado e com certeza do jeito que você deve ser. E não se preocupe, Ele tem uma roupa nova para te dar.

Que Deus te abençoe, que O Grande Leão seja com você.