Acredito que todos já foram
a um hospital um dia...
Tem sempre aqueles dias em
que nosso corpo insiste em apresentar dores ou situações incomodas
completamente indevidas. Há quem vá a hospitais particulares, ou tem seus
próprios médicos (e glória a Deus por sua vida se você pode fazer isso!), mas
para quem precisa encarar um serviço público a situação é diferente.
Minha intenção não é
reclamar sobre o atendimento dos hospitais, fique tranquilo, acredito que tudo
que eu disser você já sabe ou saberá de algum modo. Sem mais delongas quero
compartilhar algo fantástico que aprendi enquanto aguardava atendimento.
Como a maioria de vocês
sabem eu tenho Esclerose Múltipla, uma doença neurológica que pode causar
deficiências visuais, auditivas, motoras e etc. Não é uma doença fácil, mas não
é impossível também. Tenho uma vida normal, sem muitos exageros e faço
tratamento porque a mesma ainda não possui cura na medicina. Ocorreu que eu
estava no hospital porque a doença atacou (surto) e eu precisei fazer um tratamento
intensivo para estabilizá-la, o que aconteceu depois de cinco dias fazendo o
tratamento. Eu estava feliz da vida porque iria pra casa comer um monte de
porcaria e grata a Deus por estar bem novamente, sem nenhuma sequela do surto.
Bem, era o que eu esperava ...
Deparei-me com uma surpresa
desagradável naquela semana. Descobri que eu estava com uma pequena trombose na
perna direita e depois de descobrir o que era trombose (pelo pai Google) precisei
ser tranquilizada pelo meu médico. Seria mais uma semana de outros remédios e
dores incomodas. Mas pensei indo pra casa: “Bem do que eu posso reclamar?
Poderia ser pior!”. E eu fui para casa ficar de repouso e pedir a Deus um bom
descanso depois de uma semana de agulhas, remédios, dores, filas de hospital,
médicos desinteressados e cansaço emocional. (...)
O problema de quando estamos
em uma situação realmente ruim, é que nós passamos a acreditar (por desespero)
que não pode piorar. Nós nos blindamos e tentamos descartar o ruim porque já
estamos mutilados demais para pensar em algo pior. Não foi diferente comigo, eu
estava cansada, precisava acreditar que mais nada de ruim iria acontecer
comigo.
Mas aconteceu...
Um efeito colateral um pouco
exagerado do corticoide (tratamento) começou a incomodar mais do que devia,
passei a sentir dores fortíssimas no peito, falta de ar e qualquer mínimo
barulho disparava meu coração. Eu tinha a sensação de querer rasgar meu peito e
arrancar meu coração para fora e dizer: “Dá um tempo meu filho, tô cansada!”.
Eu não conseguia dormir,
sempre me assustava quando cochilava o que piorava a situação. Estava muito
complicado, e eu sentia que deveria sumir do planeta e ir para um lugar onde
não existisse nada disso.
Por fim minha mãe me levou
ao hospital. Foram quase três horas de dores constantes e mais de cinquenta
pessoas na minha frente. Cheguei a um estado crítico de quase não respirar. Fui
levada as pressas para dentro, mas o médico não quis me atender. Na verdade ele
nem olhou para mim. Todos os pacientes a minha volta tentavam me ajudar, e o
médico simplesmente não olhava para mim.
Pensa no tamanho da minha
frustração! Eu era uma menina, não sabia o que estava acontecendo comigo,
estava sentindo uma dor fora do normal. Meu peito doía, minha perna com
trombose reclamava, minha mãe chorava pedindo ajuda ao médico e o que ouvimos
foi: “EU NÃO POSSO ATENDÊ-LA, NÃO TENHO SALA.”
Imagina que você tem uma
pessoa a menos de meio metro de você que estudou anos para ajudar pessoas doentes
e que você está doente, esta pessoa pode te ajudar, mas ela diz calmamente que
não irá fazê-lo porque não tem uma sala. Eu fiquei pior do que já estava,
fiquei com raiva, disse para minha mãe me levar para casa. Se eu fosse morrer
de passar mal seria na minha casa, na minha cama e não em um lugar como aquele.
(...)
Nestes momentos mais
críticos de nossas vidas nós sempre preguntamos a Deus porque estamos passando
por isso, ás vezes nós temos uma resposta na hora, mas quase sempre Deus ou se
mantém em silencio ou diz: “Espere.”. Neste
momento eu não estava nem respondendo mais nada para Deus, só dava aquele olhar
de “CÊ TA DOIDO? EU TO MORRENDO AQUI MEU FILHO!”
Posso imaginar aquele
sorriso torto de onisciência de Deus para mim. Óbvio que não estou dizendo que
Deus sorri do nosso sofrimento, mas é aquele sorriso de um homem sábio e
experiente que dá um tapinha do seu ombro ou na sua cabeça e diz: “Calma minha filha, eu conheço o futuro. Não
estou preocupado, por que você deveria estar?”.
Após voltar para casa e
piorar mais ainda de noite, minha mãe me levou a um outro pronto socorro. O
atendimento foi mais rápido, mas eu estava focada demais nas condições do local
para perceber que já haviam me encaminhado para um médico e que a fila não era
grande. Eu estava incomodada porque o local era quente e abafado o que
aumentava minha falta de ar e fadiga da Esclerose. Na verdade eu já estava
naquele estágio de desanimo total, já era a segunda semana que eu estava sendo
mutilada física e emocionalmente, eu não estava esperando (ter esperança/contar
com) mais.
Quando eu estava prestes a
verbalizar a minha desistência, apareceu um médico no corredor. Ele disse com
uma voz alta, paciente e bem humorada o nome de dois pacientes velhinhos que
iria atender. Ele foi tão atencioso com os dois que eu cheguei a sorrir.
Nesta mesma hora a mulher
que estava do meu lado e da minha mãe disse: “AH! ESTE MÉDICO É BOM! ELE É UM
BOM MÉDICO!”. Foi um estalo na minha mente. Foram as palavras cobertas do
balsamo que meu coração e corpo ferido ansiavam para acreditar novamente. Eu me
ajeitei na cadeira e olhei fixamente para o médico e senti paz... Senti alívio.
Eu não o conhecia, nunca havia o visto, mas a moça a minha direita havia dito “este
médico é bom!”.
Era tudo que eu precisava
ouvir depois de mais de um dia de dores constantes, de negação por parte de
outros médicos e de um aflitivo (para mim) espere da parte de Deus. Eu estava
cansada do mesmo jeito, sentia as mesmas dores, mas agora eu sabia que o médico
que iria me atender era bom. Era o mesmo pronto socorro, mas eu estava
diferente.
É engraçado como precisamos
de pouco para enfrentar momentos difíceis não é mesmo? Eu precisava me acalmar
e apenas resistir a uma situação que iria passar, e apenas três palavrinhas
conseguiram aliviar todo um dia de desespero e aflição. Três palavras foram um
milagre no meu coração cansado.
Sei que você já passou ou
passa por situações similares a minha daquele dia. Alguém já te disse que não
há salas para te atender, que não há saída, que no momento ele está ocupado
demais, que outras pessoas estão na sua frente, que ele não vai te ajudar.
Tenho certeza que já aconteceu de você nem receber um digno olhar, ou palavras
que te confortassem em momentos que você não sabe o fazer.
As pessoas vivem nos
desapontando, nos ferindo, virando as costas nos momentos de maior desespero
para nós. Fazem tanto isso que acabamos por deixar de esperar, acabamos por
atribuir falhas humanas a um Deus que não é falho. Achamos que o espere de Deus é um não posso atendê-lo ou não quero. Então nós nos entregamos à
aflição e não conseguimos resistir.
Eu fiz isso naquele dia, e
no final das contas eu precisava fazer. Eu precisei chegar um ponto tão
miserável para perceber que Deus jamais faria isso comigo. Quando vi aquele
médico, quando ouvi sobre ele, me lembrei de Jesus.
Ele atendia a todos, não
importava quem fosse. Ele atendia em qualquer lugar. E mesmo que as pessoas
tentassem impedi-lo Ele ainda assim atendia. Nunca ouvi Jesus dizer não posso,
eu não tenho sala. Na verdade Ele dizia: “Vinde
a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mt
11:28). Ele sempre se interessou pelos problemas de cada um que encontrava e
nunca negou atendimento a nenhum deles.
Naquele dia eu pensei que
Deus havia me deixado a mercê por causa do primeiro médico, mas eu não sabia
que na verdade eu estava apenas no lugar errado e na hora errada. Afinal de
contas o Bom Médico iria me atender logo mais a noite. E eu fui muito bem
atendida, voltei para casa sem dor e dormi um dos sonos mais tranquilos que já
pude desfrutar até hoje.
Lembre-se meu caro amigo que
nós temos muito mais do que um bom médico. Um ser humano pode se compadecer de
outro, mas só existe uma pessoa que pode se colocar em nosso lugar e sofrer
todas as nossas dores, entender todas as nossas aflições, nos amar incondicionalmente
e estar 25h por dia disponível para nos ajudar, afinal Ele não é apenas o Bom
Médico, Ele é também o bom amigo, o bom consolador, o bom ajudador (...). Ele é
BOM em tudo e qualquer situação.
“Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e
as nossas dores levou sobre si; (...) e pelas suas pisaduras fomos
sarados.”
Isaías
53: 4-5