segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Filho(a) de quem?





Eu vivo prometendo voltar a escrever, mas confesso que no ano passado se tornou uma tarefa extremamente árdua com a faculdade e os acontecimentos atuais. Tenho muitas matérias para compartilhar, mas ainda penso que muitas delas, estão apenas em fase de esboço. Faltam algumas palavras e situações que ainda não presenciei para me trazer a sabedoria de termina-los. Hoje me abstenho em uma matéria cotidiana (como se alguma minha não tivesse sido antes, rs). 

Gosto de pensar no quanto posso aprender apenas com algumas palavrinhas ou situações inusitadas. Acredito que a maioria dos filhos de pastores irão se identificar com maior intensidade porque citarei minhas situações pessoais aqui. Bem, quem não sabia agora já sabe que sou filha de pastor. Conhecida popularmente como “filha do pastor Ariel”, ou também da “inspetora Eunice”. rs

Mais recentemente fui a uma igreja com meu namorado e fui apresentada como a namorada do Mateus. E eu achando que lá eu ia ser a Rebeca. Ledo engano. (rs)

É impressionante como não tenho nome...

Não que eu queira apresentar uma teoria feminista com este texto, na verdade me surpreendi por como eu já tomei posse destes nomes dados a minha pessoa, e como nunca tinha percebido de fato o valor deles. Quer dizer, meus pais são pessoas tão importantes para os outros, que eu sou lembrada por ser filha deles. Isso me lembra um pouco a história de Jacó, que na verdade era de José, mas a bíblia começa com: “Esta é a história de Jacó...”.

É engraçado como passei tantos anos empenhada em estabelecer meu nome, que nem notei que a maioria dos privilégios que tive foi por ser filha de quem eu sou. E na verdade, acredito que todos nós passamos por isso, seja pro bem ou pro mal. Se seus pais foram ou são pessoas exemplares você recebe privilégios, óbvio que também responsabilidades, diante do nome deles que você carrega. Se o for o contrário, você também é marcado por isso. Quantas vezes consegui algumas coisas a mais por ser a filha do pastor Ariel. Quantas vezes os professores me tratavam diferente porque eu era a filha da inspetora Eunice. E apesar de odiar não ter um nome, nunca reclamei de ter meus privilégios.
Pra falar a verdade acredito que a maioria por aqui na terra pensa o mesmo. Odeiam ser chamados como filho do fulano ou do beltrano, mas na hora de receber seus privilégios as reclamações são tão brandas que nem são ouvidas. Né?

Mas, além disso, obviamente pensei em Deus. Quer dizer, se somos cristãos, somos filhos dEle. Se somos filhos dEle, em algum lugar por aí, quando perguntam de nós, acredito que a resposta seja: Aquela ali? Ela é filha de Deus. 

Ou não...

Somos filhos na hora da benção, da súplica, do perdão e da salvação. Mas será que somos filhos em outros momentos? Quer dizer, não que nos tornássemos órfãos, mas será que agimos como filhos? O problema consiste no fato de que justamente não deixamos de sermos filhos...

Na época em que eu aprontava, eu não deixava de ser a filha do pastor Ariel ou da inspetora Eunice. Eu era a filha de pastor revoltada que não ia para o céu (SIM ESTE JÁ FOI UM APELIDO MEU). Eu era a filha da inspetora Eunice que estava fazendo coisa errada. Isso sempre foi um prato cheio tanto na igreja, quanto no trabalho da minha mãe. E acredite, é um prato cheio quando nos dizemos cristãos e fazemos coisas que não condizem.

Pensa comigo. Você é filho de Deus, diz que serve a Ele, que Ele é seu pai, mas suas atitudes não dizem isso. Não é seu nome que está sendo manchado apenas, é? Na verdade a responsabilidade vai para aquele que é responsável por você. Suas atitudes dizem sobre o que os seus pais te ensinaram, ou como te criaram, mesmo que eles não tenham te ensinado algo.

Preocupo-me com isso porque temos uma quantidade enorme de cristãos que apresentam pratos cheios para os céticos e críticos por aí. E no final das contas mancham o nome da família inteira não é mesmo? Para aqueles que ainda lutam para se desfazer destes nomes, meus caros, preciso dizer que um dia será assim com seus filhos. E eles serão reconhecidos pelo que você é, e assim continuará. Não que você seja um ninguém, na verdade, você é, mas existe uma importância que só fará sentido quando você for pai. Até mesmo porque nós filhos sabemos como nossos pais enchem a boca para dizer “este é meu filho” quando sentem orgulho de nós. E sabemos também, que quando precisamos ser defendidos, de uma forma ou de outra nossos pais e família, são os primeiros a bater o pé e dizer: Oh, peraí! Fulano é meu filho/irmão!!

Não acho que seja diferente com Deus, nem com nossos irmãos em Cristo. Aquele momento em que o Diabo vem jogar as coisas na minha cara posso até ouvir o som das batidas do pé de Deus lá cima. Aquelas batidas nervosas de pé que nós sabemos que precede a um puxão de orelha (que inclusive levamos a uns dias atrás). Deus levanta e vai logo dizendo: “Cê ta louco? Fulano é meu filho! Ta falando o que dele?”

Posso ouvir também os argumentos, até bem verdadeiros, do Diabo nos acusando das coisas que nós de fato fizemos. Acho que a melhor parte vem agora. É aquele momento em que seu pai bota o vizinho pra correr, dizendo que na casa dele quem manda e resolve as coisas é ele. Você até sabe que vai apanhar ou ficar de castigo, mas sabe que não vai vir de fora e que nem será maior do que você possa aguentar. Porque vamos combinar né, Deus é um paizão bom demais da conta. Ele é puro amor e nunca corrige com ira. Você sabe que na hora que o Diabo termina a lista das bagunças que você fez Deus já te colocou do lado dEle e já está com os braços cruzados com aquela cara de “não meche com meu filho não”. E Ele fala né, traz o contrato da adoção, esfrega o sangue na cara do Diabo e fala com ele pra ir cuidar dos filhos dele.

Resta saber filho de quem você é. Não que ser filho do Diabo não tenha seus privilégios, já fui atraída milhares de vezes por eles, mas no final das contas o Diabo nem bom pai é. É daqueles que bebe o dia inteiro, fala asneiras, só faz elogios com um fundo de interesse, não te corrige, não te ensina e se vem outro tentar te bater, bem capaz dele assistir e te acusar junto.
Bem, eu sou filha de Deus, do pastor Ariel e da inspetora Eunice (recentemente, namorada do Mateus rs’). Um dia sei que meus filhos serão reconhecidos pelo meu nome e do meu esposo. Mas e você? Você é filho de quem?




"O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus."