sexta-feira, 12 de junho de 2015

A Estrada



Boa noite meus amores, depois de um tempinho(bondade minha, desde janeiro que não encontro tempo) sem postar, estou voltando com uma matéria que escrevi quando estava no seminário. Tenho um certo carinho por esta mensagem por ter escrito ela tão novinha e por mesmo naquela época, por motivos vivenciais eu acabei por perceber sobre nossa estrada da vida. Leia esta história e se coloque como o personagem principal, você é este personagem e você está correndo, então pare e leia.



Um velho caminhava por uma estrada, sozinho durante um começo de tarde, seus passos eram calmos e sua respiração era tranquila. Seu tênis pisava o asfalto de corrida com total zelo e seus olhos observavam a paisagem que estava a sua volta. Enquanto o velho caminhava absorto em seus pensamentos, passou por ele um jovem, com um fone de ouvido tocando uma música empolgante, correndo feito um louco. Seu corpo escorria suor e ele mal conseguia respirar. Mesmo passando rente ao velho, este jovem não o notou continuando a correr para alcançar a sua meta. Horas mais tarde, quando o velho finalmente chegou ao final da estrada se deparou com uma cena que o fez rir, o jovem estava deitado em um banco quase sem fôlego com os olhos confusos e com as mãos na cabeça como se ela doesse. Calmamente o velho sentou-se ao seu lado, respirou fundo e perguntou:

- Meu amigo, o que houve?
- Não sei. – Disse o rapaz.

Gentilmente o velho sorriu e de seu bolso retirou um remédio para dor de cabeça e entregou ao rapaz que aceitou desesperado.
- Não entendo. – Disse o rapaz. – Eu corri o mais rápido que pude cheguei ao final da estrada, gastei o menos tempo possível e ainda me sinto como se tivesse que correr por mais umas dez desta. É como se eu não consegui atingir minha meta. Como se eu tivesse que correr mais rápido. Não entendo. – Repetiu o jovem.

O velho sorriu e sabiamente disse.
- Meu jovem, a questão não é chegar o mais rápido possível. A vida não é uma corrida desenfreada para se alcançar algo, pois caminhos são feitos para caminhar não para correr feito um louco. Com certeza se você tivesse vindo andando, sem fones de ouvido teria percebido o quão linda é a estrada que você andou e certamente sua impressão de ter que correr mais dez destas, se deve ao fato de que você correu pela estrada sem desfrutá-la.

- Mas isso é tão difícil, digo é mais fácil correr e chegar ao fim da estrada logo do que caminhar por ela e passar por coisas desagradáveis no meio do caminho. Se eu correr as dificuldades não serão rápidas o bastante para me alcançar. – Disse o jovem confiante.
Naquele momento o velho se levantou e fez uma proposta ao jovem. Eles fariam novamente o mesmo percurso, porém eles caminhariam pela estrada ao invés de correr. Não tendo o que fazer o jovem aceitou meio carrancudo e foi com o velho. Durante todo o caminho o jovem, mesmo não ouvindo as suas músicas, pôde ouvir o canto dos pássaros e o som do vento nas árvores e folhas. Ele observou nitidamente a paisagem e pode ouvir com bastante calma seus pensamentos, e o som do seu coração. Ao final da estrada sua cabeça não doía, e suas pernas não reclamavam de uma dor insuportável como da ultima vez. O velho se pôs a frente do jovem e sorrindo o abraçou.

- Meu amigo, não se esqueça. As estradas mais difíceis são aquelas que você tem que caminhar calmamente, dia a dia, passando pelos obstáculos lentamente e observando tudo o que este caminho pode te oferecer. Porém são estas estradas difíceis, longas e demoradas que nos fazem merecedores da vitória. Olhe a sua volta e veja o lindo pôr do Sol que está a sua frente, se você tivesse vindo correndo e ido embora naquela hora não presenciaria algo assim. Você precisa fazer todo o trajeto sem se apressar nem se atrasar pra chegar a um lugar e contemplar tudo o que lhe será concedido, pois tudo acontece no tempo certo, nem antes nem depois.

Dito isso o jovem e o velho se apertaram e suas lágrimas escorriam molhando um ao outro.
Enquanto isso ao longe uma criança observava um toda a cena que aos seus olhos era completamente estranha. Ela via um homem parado abraçando o vento e chorando. Sem entender ela correu até o senhor e disse:
- Com quem você tá falando moço?
E o homem enxugando as lágrimas abaixou-se e sorrindo respondeu:
- Comigo mesmo criança. Hoje eu ensinei a mim mais uma vez que todos os dias eu tenho que caminhar, e não correr, pela estrada de um problema, que só assim eu vou aprender a lidar com ele e ser merecedor da recompensa no final.

A criança olhou para o homem e sorrindo saiu correndo em direção a mãe. Anos mais tarde aquela criança se tornou uma jovem atarefada, sua vida era uma constante correria e tudo se resumia a trabalho e estudo. Nunca tinha tempo pra si, e mesmo quando tinha acabava se esquecendo das coisas que se prometia.
Certo dia no final de uma tarde bem chuvosa, a jovem voltava encolhida debaixo de seu guarda chuva, correndo como sempre. Como a calçada estava escorregadia a jovem caiu no chão. Nervosa por ter escorregado, caído, se machucado e por estar perdendo seu tempo ficou ali parada por uns instantes resmungando. Quando levantou a cabeça para se pôr em pé, em meio aos grossos pingos de chuva ela viu a velha pracinha onde brincava quando criança. Naquele instante seu coração bateu fortemente e seus olhos se encheram de água quando lhe veio a memória aquele homem de anos atrás. Devagar a jovem se levantou e foi em direção a praça, sentou-se no banco ao final da estrada e começou a fitar a estrada lembrando-se de todo o caminho apressado que ela tinha feito até agora. Fechou seu guarda-chuva, se levantou e começou a caminhar devagar pela estrada. Calmamente ela pôde sentir tudo que acontecia a sua volta, percebeu que a chuva era gostosa, que o cheiro de terra molhada era agradável e o mais interessante, ela entendeu que mesmo que todas as pessoas da Terra estivessem correndo, a Terra continuava a girar na mesma velocidade, calmamente.

Ao chegar ao final da estrada a jovem, sorrindo, prometeu a si mesma que todos os dias ela iria caminhar e não correr, pois o seu verdadeiro eu só poderia ser ouvido no caminhar da estrada. Assim a jovem voltou para a sua vida e calmamente caminhou pelas estradas que a vida lhe impôs, sempre ouvindo e sentido tudo a sua volta.
Se observarmos, Jesus nunca correu em nenhum momento na Bíblia, por cada estrada que ele passava seus passos eram pacientes e atentos. Se Jesus tivesse corrido para chegar aos lugares, Ele provavelmente não perceberia nem ouviria várias pessoas que estavam a beira da estrada pedindo socorro.

Quando corremos, nos esquecemos que a maioria das pessoas que precisam de ajuda, estão paradas esperando que alguém passe pela estrada e as perceba. Mas como iremos perceber se estamos ocupados demais correndo? Como poderemos ouvir a nós mesmos quando o que conseguimos ver é só o final da estrada?
O importante não é só o que te espera ao final da estrada, mas é também tudo o que você passou para merecer chegar ao final dela. Se corremos pela estrada não deixamos de ouvir somente os que necessitam, mas a nós mesmos o que gera um esquecimento de quem nós realmente somos.

E aí, que tal caminhar hoje? Experimente ouvir tudo aquilo que o silêncio diz, pois é o no silêncio da estrada que você ouve e vê TUDO.