terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Síndrome do Meio Samaritano



Boa tarde meus blogueiros, 

Hoje a matéria é uma das mais difíceis que fiz até hoje, em parte porque está relacionada ao sofrimento de outro e em parte porque eu terei dificuldade em me perdoar pelo ocorrido. Enfim, vamos a história...

Eu sou uma pessoa que apesar de não parecer para muitos, sou extremamente sensível. Eu acredito a muito tempo que toda a criação de Deus deve ser tratada com respeito e ser cuidada por nós. Acho que a maioria das pessoas que leem a minha matéria já seguraram aquele típico choro quando viu o animalzinho morrer em um filme. É tipo, matem todos, menos o cachorro/gato/cavalo etc etc. é difícil ver um animal que sabemos que não tem maldade ( a não ser que seja condicionado a isso ou que isso seja parte da sua condição animal ) morrer. Mas enfim, não vamos ficar comentando a morte do pai do Simbá em o Rei Leão porque ninguém superou né gente! 

O que aconteceu comigo esta semana foi que ao sair de Itabira-MG eu e minha mãe vimos um cachorro no meio de uma rotatória que dava para a BR cambaleando de maneira esquizofrênica tentando sair da via. Eu olhei desesperada o cachorro e vi que os carros continuavam a passar em alta velocidade e os que passavam devagar desviavam dele. Meu coração se encheu de dor. O cãozinho foi atropelado e parecia ter quebrado as patas. Comecei a chorar ao ver o sofrimento dele e pedi minha mãe para parar o carro para eu tentar tirar ele dali. Minha mãe continuou indo e disse a princípio que ele ia morrer. Eu fui dando uma crise de choro e fiquei tomada de uma raiva e de responsabilidade que falei no tom de maior autoridade que eu podia ter em minha vida: "Mãe ele é criação de Deus! Está sofrendo e nós vamos embora????? Ele é nossa responsabilidade também!"

Minha mãe se deu conta da seriedade do que eu estava dizendo e virou o carro para voltar até o local. Eu havia conseguido que ela voltasse, mas o que iria fazer agora? Sai do carro chorando e atravessei a BR desesperada para chegar ao cachorro que estava agora sentado parecendo esperar o fim. Sua pata direita estava quebrada e sua pata esquerda dilacerada em carne viva. Estava chovendo um pouco e eu não sabia se estava molhando com a chuva ou minhas lágrimas. Era um cachorro mais velho e aparentava estar cego de um olho. Eu queria pega-lo, mas via que ele estava com medo e eu precisava ter cautela. Eu mais chorava do que falava com o cachorro. Eu já estava percebendo que além de não ter o dom de veterinário eu estava ali apenas com a intenção de tirá-lo da via. E foi o que eu fiz! Vários carros passaram com motoristas apenas olhando pra mim sem sequer fazer menção de ajuda. Minha mãe gritava do outro lado da avenida com medo do cachorro me morder e eu chorava porque o via sofrendo e não sabia como tirar o sofrimento. Nunca vou esquecer este ocorrido na minha vida! 

Mas porque estou falando sobre isso? Eu cometi um erro gravíssimo naquele dia. Pedi perdão a Deus muitas vezes e às vezes ainda peço na tentativa de me acalmar. Por que? Porque eu apenas tirei o cachorro da via. Fui uma meia samaritana, não uma BOA samaritana. Eu chorei de vergonha no carro e minha mãe tentou me acalmar algumas vezes, mas ela não dizia que eu tinha pelo menos feito algo porque ela sabia, assim como eu, que eu não tinha feito absolutamente nada porque o cachorro continuou sozinho e deixado para morrer. Eu apenas posterguei a morte. 

Eu estava tão inconsolável que minha mãe me disse que assim como eu havia me compadecido, outra pessoa poderia ter parado o carro é feito o que não fizemos, levado ele para dentro de Itabira até a prefeitura para que ele fosse tratado. Nós duas não tínhamos dinheiro e por algum motivo estupido estávamos certas que não poderíamos fazer mais do que tirá-lo da via. 

Percebi várias falhas minhas naquele dia! A primeira é que mesmo com bom coração, compaixão e consciência do que era o certo a se fazer eu não tinha o menor preparo para isso, o que significa que querer fazer uma boa ação não é o bastante. O bom samaritano estava preparado para ajudar, o que significa que mesmo que acontecessem imprevistos ele poderia lidar. Isso me faz pensar se realmente temos a intenção de fazer as coisas, porque só fui realmente entender a gravidade da situação quando estava de frente para o problema. E acho que você, meu caro leitor, entende que é angustiante você sentir todo o desejo de cuidar ou ajudar alguém e estar limitado a tirá-lo da via apenas. 

Não estou aqui menosprezando uma pequena ação, longe de mim. Fazemos aquilo que podemos, que está ao nosso alcance. Mas eu gostaria incitar a melhora do seu alcance com esta matéria. Imaginemos que fosse uma pessoa ali, é óbvio que se eu ligasse para a Polícia Rodoviária viria uma ambulância prontamente, mas supondo que não houvesse tempo para esperar e que eu precisasse levar eu mesma. Agora, provavelmente eu estaria em uma situação pior, eu penso. Sabemos que o senso de responsabilidade da minha mãe e meu seria maior é claro, mas mesmo assim. Somos pessoas boas, que querem fazer o bem, mas não nos preparamos pra isso. Acho que é por isso que agimos mais como o sacerdote e o levita do que como o samaritano. 

Tenho percebido que a frequência deste ato tem crescido de maneira alarmante. Estamos mais para sacerdotes e levitas do que para bons samaritanos. As pessoas estão caídas pelo caminho, machucadas e sem esperanças e o que fazemos é dizer mentalmente que não é nossa responsabilidade. Fazemos isso com o mendigo, com a criança de rua do sinal e sim, fazemos isso com os animais que não tem culpa de nossos erros. 

Gostaria que você refletisse sobre isso meu amigo leitor. Será que a vida te cegou a tal ponto que você simplesmente passa pelos feridos da vida e segue com o ledo engano de que não é problema seu? Quem é o seu próximo? Se você não acha que é capaz, então lhe falta a coragem de se capacitar pelo próximo. E se seu coração é bom, e eu acredito que é, seja mais que um meio samaritano, seja um BOM samaritano

Se possível, aprenda com minha experiência, eu aprendi naquele dia e meu senso de responsabilidade e amor pelo próximo se tornou mais grave desde então. Existe uma propaganda que diz "Se não puder fazer tudo, faça tudo que puder", mas eu te convido a "Ama ao próximo como a ti mesmo", então você verá que pode fazer tudo. Você saberá que você e o seu próximo são UM.

Deixo vocês com esta canção: https://www.youtube.com/watch?v=4ehzzYybQ_4


 "Nunca é tarde demais para descobrir o amor"


"Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira."
Lucas 10:36,37